domingo, 28 de outubro de 2007

Aqui e Agora


Beija-me, aqui, agora. Por momentos deixa-te levar pelo impulso, e mergulha no instinto de amar. Envolve-me nesse teu abraço suave, e beija-me docemente de angústia e desejo. Olha-me nos olhos, enquanto me despes na imaginação. Deixa-te envolver por mim.
Envenena-me os sentidos, enquanto eu te apaixono o intelecto. Deseja-me, que eu desejar-te-ei. Agarra-me, e desce lentamente a outra mão pelo meu pescoço, como quem quer ter o que não pode. Vira-me as costas, deixa-me fugir.
Beija-me enquanto é tarde, e nos escondemos no manto da noite. Beija-me enquanto não é tarde e o podemos. Beija-me, aqui, agora, e deixa-me devanear no desconhecido do teu corpo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor, já ele dizia, aliás como o Ser Humano em si. Sim, estou revoltada.
O pior.. é a mentira, que duvida de todo o passado, coloca em causa o presente e aniquila o futuro. A mentira desacredita. E existem muitos mentirosos. E eu não gosto deles.