segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor, já ele dizia, aliás como o Ser Humano em si. Sim, estou revoltada.
O pior.. é a mentira, que duvida de todo o passado, coloca em causa o presente e aniquila o futuro. A mentira desacredita. E existem muitos mentirosos. E eu não gosto deles.

2 comentários:

blonde disse...

tanta revolta... deixa sair tudo o k está aí dentro!!!

Daniela disse...

ninguém gosta e, no entanto, todos nós temos que "levar" com um ou outro que aparece de vez em quando.
é a vida, a mentira não vai desaparecer, resta-nos acreditar que ainda há pessoas verdadeiras po aí.
eu acredito.


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